quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Quando o Amor se vai

Sentimos um nó na garganta, um bolo no estômago. Deixamos de raciocinar coerentemente. O mundo deixa de existir. As coisas deixam de ter importância. Uma dor insuportável, interminável, inexplicável toma conta de todo o nosso ser. Um sofrimento que insiste em estar presente, traz ao pensamento, a todo instante, lembranças do amor que se foi, dos momentos que não voltam mais.

Somos tomados por uma sensação irracional e ingênua de abandono, de falta de proteção. Tudo aquilo que tínhamos como certeza, que classificamos como sagrado e para sempre, que foi fruto dos nossos desejos e das nossas estruturas imaginárias, se desmorona. Quando o amor se vai, tudo que se passa já não tem mais graça, nada satisfaz.

Quando o amor se vai, ficamos com a fantasia de que deixamos de ser importantes. Sentimo-nos frágeis. Quando amamos, convivemos com uma energia poderosa de solidez tão grande que nem nos passa pela cabeça viver sem ela. Caímos num vazio. Algo se perde. Abre-se um buraco difícil de ser preenchido. 

Fica um profundo sentimento de desconforto, de tristeza. Não existem vencedores quando o amor se vai. Sentimo-nos encolher por dentro, uma impotência enorme de ter que começar de novo, uma insegurança absurda de não acreditar que podemos ser amados novamente. Esvaziamo-nos. Sentimos medo de começar uma nova vida, sozinhos, sem a muleta. Medo de encarar a família, a sociedade e, principalmente, a nossa própria consciência. Medo da solidão e do vácuo que inunda o nosso coração. Uma sensação de derrota. O fato é que não amamos para deixar de amar e quando isso acontece é sempre triste e frustrante, difícil de engolir.

A ideia do amor nos deslumbra e nos confunde com a crença do amor para sempre. Nos acena com um paraíso na Terra. Nos dá certezas e razões. Acreditamos inocentemente que o amor do outro nos dará a possibilidade de crescer e que sem a sua presença não conseguiremos mais viver com segurança. 

Seria mais fácil se compreendêssemos que o outro nos encanta, nos completa e traz grandeza, mas não nos transforma. Parecemos melhores ou mais fortes quando amamos, mas é o amor que nos transforma, não o outro. Sem essa compreensão, o fim é muito difícil.

Quando o amor se vai, mais que a dor da ausência, da perda, da rejeição, dos detalhes, das lembranças, maior que tudo é a saudade que sentimos de quem somos quando amamos e somos amados...

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